Nos últimos meses, a fosfoetanolamina apareceu muito nos noticiários como sendo a solução para a cura do câncer e uma revolução no tratamento dessa doença. Apesar da falta de pesquisas em humanos, a mobilização popular — principalmente de pacientes com câncer em estágio terminal — pressionou por uma liberação de seu uso no território nacional mesmo sem registro na ANVISA.
Mas afinal, o que é verdade em relação à fosfoetanolamina? Em que estágio estão as pesquisas? Qual a expectativa para os próximos anos? Os médicos já podem prescrever o medicamento? A quais riscos os pacientes que utilizarem a droga estarão se submetendo? Vamos explicar tudo isso aqui no post! Confira!
O que é a fosfoetanolamina e como ela age contra o câncer?
A fosfoetanolamina é encontrada naturalmente no organismo, ajudando na formação das membranas celulares e no sistema de sinalização. Sintetizada em um laboratório do Instituto de Química de São Carlos pelo professor Gilberto Orivald Cherice há algumas décadas, a droga se mostrou capaz de marcar as mitocôndrias de células cancerígenas e, assim, estimular a autodestruição dessas células por apoptose.
No entanto, como o termo “câncer” é usado para descrever um grande grupo de patologias diversas, é praticamente impossível que esse mecanismo de ação gere resultado contra todos os tipos de tumores.
Quais pesquisas já foram feitas com a fosfoetanolamina?
A ação da fosfoetanolamina foi avaliada apenas em nível celular e em animais, em que demonstrou potencial terapêutico e foi avaliado quanto à sua toxicidade. Estudos clínicos com humanos ainda não foram formalmente realizados.
Quais os efeitos da fosfoetanolamina em pacientes com câncer?
Pesquisas formais ainda não foram realizadas, mas como a droga foi distribuída gratuitamente pelo pesquisador Gilberto Cherice por mais de 20 anos, diversos pacientes com câncer relatam ter apresentado melhora e até cura da doença.
Qual a situação atual da droga?
Em 2014, com a portaria 1389, a distribuição da droga foi proibida devido à falta de testes, registro e autorização da ANVISA para o uso. Desde então, diversos pacientes conseguiram acesso ao medicamento por meio de liminares judiciais. Iniciou-se também uma campanha de mobilização popular para que a ANVISA fosse pressionada a permitir a comercialização da fosfoetanolamina no país e a prescrição do medicamento para pacientes com câncer.
Em abril de 2016 foi sancionada a lei 13.269, que autorizava a fabricação e uso da fosfoetanolamina no tratamento da câncer, mas, no mês de maio, o Supremo Tribunal Federal suspendeu a lei corroborando a posição da ANVISA e a recomendação da comunidade médica que é ainda contrária ao uso do medicamento.
Por que a droga ainda não foi liberada?
A comercialização de um remédio segue protocolos rígidos para que medicamentos tóxicos ou ineficazes não cheguem aos pacientes. Assim, devem ser realizados testes em células para avaliação do potencial terapêutico e da toxicidade da droga e, em seguida, testes em células e animais para a avaliação de toxicidade reprodutiva, genotoxicidade, tolerância local, carcinogenecidade e segurança.
Só então a droga passa para os estudos clínicos com testes em humanos, divididos em quatro fases. Após avaliação da segurança, da dosagem, do efeito sobre o corpo, da eficácia, dos efeitos colaterais e das interações com outros remédios em diversos estudos sequenciais é que o medicamento é liberado pela ANVISA para o comércio e continua sendo monitorado em toda a população — o que constitui a fase 4 dos estudos clínicos.
Como a fosfoetanolamina não seguiu grande parte dessas etapas, a ANVISA não pode liberar sua comercialização.
Por que essas pesquisas ainda não foram realizadas?
Em geral, espera-se que esse processo demore anos ou décadas para ser concluído. O Instituto de Química de São Carlos, onde a droga foi sintetizada, não tem recursos para a realização dos testes ou produção da droga em larga escala e só agora ela passará a ser testada em outros centros de pesquisa, como a Fundação Ezequiel Dias, em Belo Horizonte.
Qual a expectativa para os próximos anos?
Espera-se que em alguns meses a droga já comece a ser testada em pequenos grupos de pacientes com câncer em alguns hospitais e à medida que os estudos avancem de fase, mais e mais pessoas tenham acesso ao medicamento.
Caso tenha alguma dúvida sobre a fosfoetanolamina, deixe um comentário.